Segunda-feira, 19 de Maio de 2008
Eu não sou portista, mas tal facto não me impede de encarar os factos com
seriedade e de os tratar como tal; factos e não convicções. Presentemente
tenho que confessar que já não consigo calar a minha revolta e estupefacção
pelo momento que atravessa Portugal.
Assistimos, neste momento, ao assassinato social de uma personagem pública,
em absoluto frenesim mediático e perante o gozo, finalmente alforrio, de
três quartos do país. Pinto da Costa é o seu nome e atrás dele arrasta-se
pelo chão o nome do clube a que ele preside o Futebol Clube do Porto.
Na entrega dos Globos de Ouro, onde o Jesualdo Ferreira recebeu o galardão
de treinador do ano, as vaias e apupos que se ergueram só não foram mais
explícitas na transmissão televisiva por causa das palmas pré-gravadas; esta
reacção fez-me corar de vergonha como se tivesse sido eu o alvo. Perante a
audiência das elites mediáticas sufragou-se o nojo do país por tal clube e
presidente.
No dia seguinte a um outro espectáculo mediático, este o da leitura da
sentença da Liga de Clubes, publicaram-se notícias sobre a perda de sigilo
bancário de Pinto da Costa em relação a contas de empresas suas, vítimas de
denúncias de Carolina Salgado. Quando o inimigo cai no lodo não se deve
cometer o erro estratégico de o deixar levantar; as solas das botas servem
para alguma coisa.
Mas afinal qual a causa que levou, finalmente, à condenação, não dos
tribunais que estes são o que sabemos mas em sede da opinião publica
(desportiva?), do homem por causa de quem foi formada a segunda equipa
especial de investigação do Ministério Público em toda a história da
terceira república em Portugal. Antes desta só uma foi criada e foi-o para
investigar um outro fenómeno de "proporções equivalentes": as FP 25 de
Abril.
O que está aqui em causa não é se ele é corrupto ou não. Eu disso não sei e
se o for não sei se é muito diferente dos que o perseguem, inclusive dos que
dirigem o meu clube. O que está aqui em causa são duas acusações
específicas, ocorridas numa determinada data, envolvendo determinadas
pessoas. Acusações que são o corolário de anos de investigação por parte da
mais cara e mais "independente" equipa de investigação em Portugal e que
continuamos a pagar como se não houvesse problemas mais graves a resolver
neste pais. Por mais que alguns queiram, não se trata de absolutamente mais
nada.
Todos os que comentam este caso confessam, em privado ou na televisão, o seu
desconhecimento do processo, mas no entanto louvam a coragem da condenação.
Como é possível? Que estado de loucura é que nos atingiu?
De certeza que não é por causa das escutas telefónicas que Pinto da Costa
será condenado, porque se for, não se compreende por que é que as escutas
que mostram Luís Filipe Vieira, João Rodrigues e Veiga a escolher árbitro e
pedir favores, e que foram publicados nos mesmos jornais, não deram origem a
processos.
De certeza que não é por causa do testemunho de Carolina, porque em qualquer
parte do mundo ela não seria considerada uma testemunha credível. Não por
causa do seu passado de alterne, mas porque é uma companheira desavinda e
com pronunciada e notória intenção de denegrir o antigo companheiro. Para
além disso nunca conseguiu apresentar qualquer prova do que afirmou,
exibindo apenas testemunhos contraditórios. E testemunhos valem o que valem.
Todos podemos dizer mal ou bem de quem nos apetecer.
Pinto da Costa é condenado porque existe uma generalizada convicção de
culpa. De que é corrupto e que arquitecta os resultados do clube a que
preside à mais de vinte e cinco anos e que portanto este não os merece e que
lhes deviam ser retirados. Esta convicção continua a ser uma convicção e não
uma certeza, depois do falhanço da toda-poderosa equipa de Morgado em apurar
factos novos e emancipados da Carolina. Neste momento a equipa da eminente
magistrada investiga transferências de jogadores do FCP e mais recentemente
empresas de Pinto da Costa para apurar fugas ao fisco. Tudo com base nas
informações de Carolina. Já não se trata de futebol. É a procura de um ponto
fraco, do calcanhar de Aquiles. Trata-se de um inimigo que urge abater a
qualquer custo. Se doer melhor. Eu nisto não me revejo.
E quem possui, então, esta convicção tão forte que até se confunde com uma
certeza? Esta convicção que desmobiliza qualquer interesse sobre aspectos
legais ou morais e apenas direcciona para o pelourinho. Os adeptos do Porto
não a têm, claro. Têm-na os adeptos dos seus dois clubes realmente rivais,
os quais constituem perto de três quartos dos adeptos em Portugal.
E como é possível que massas tão colossais de pessoas tenham crenças tão
parecidas ou tão diferentes?
A explicação não me parece difícil. Todos se lembram do campeonato ganho
pelo Sporting em 1999/2000? Pois o Sporting chegou ao último jogo com dois
pontos de vantagem sobre o Porto, depois de o segundo ter sido "roubado" de
uma forma mesmo eu tenho que admitir - inacreditável, por Bruno Paixão em
Campomaior. Os meus amigos portistas ficaram cabalmente convencidos da
corrupção desse campeonato que lhes roubou o "Hexa".
No ano seguinte o mundo do futebol escandalizou-se com a benevolência com
que o "sistema" permitiu ao Boavista molhar a sopa em praticamente todos os
relvados do país, deixando uma esteira de mortos e feridos nas fileiras
adversárias.
Em 2001/2002 o Sporting ganhou um campeonato em que os adeptos contrários se
indignaram com o número de jogos resolvidos com penaltis. As suspeitas foram
como de costume descomunais.
Em 2004/2005 o Benfica arrecadou um campeonato invulgar, pisando com
pezinhos de lã o que se convencionou chamar de "passadeira vermelha". Mais
uma vez foi grande e generalizada a revolta e a suspeita.
Ora, este curto parágrafo contém a descrição de todas os campeonatos ganhos
por equipas adversárias do Porto desde 1994 e isto é que constitui o cerne
do problema. Basta aplicar a fórmula explicada em cima para se perceber o
porquê do ódio ao Porto e da convicção, por parte dos adversários, da sua
culpa e da do seu presidente que tem permanecido o mesmo.
Neste país ninguém ganha por merecimento. Tudo ganha na batota. Ganhasse o
Porto dois campeonatos por década e era um clube simpático e o presidente um
tipo culto que até declama poesia, passe a pronúncia.
É claro que existe corrupção no futebol. Ninguém é ingénuo. No futebol e na
politica, nas modalidades amadoras e sociedades recreativas. A corrupção
existe onde existem interesses. Nas mesas de café, por entre cervejas e
tremoços, os amigos e conhecidos repartem amigavelmente estas histórias e
convencimentos, riem-se do golo que marcaram com a mão e ofendem-se com a
vista grossa feita à bola que bateu em pelo menos 15% do ombro e portanto
deveria ser penalti.
Falta apenas o catalisador de todas estas energias, positivas e negativas e
o catalisador são os media. No momento em que escrevo este texto não sei
quantas pessoas o vão ler, mas se o fizer na televisão sei que vai ser
escutado por milhões. Os dirigentes dos clubes que não ganham o suficiente,
ou então velhas comadres desavindas, extravasam os seus ódios e
dissimulações nos meios de comunicação e catalisam todas as frustrações dos
adeptos que conduzem da mesma forma que os políticos gerem os povos nos
comícios e mesas de voto.
Temo que o processo tenha ido longe demais e apenas a justiça civil tenha
oportunidade de repor o estado de direito que permanece na aparência mas que
foi suspenso de facto. Nesta sociedade, quem acusa tem que provar, não o
contrário. Nesta sociedade, perante a justiça, causas iguais originam
processos iguais. Não pode haver descriminação. Não pode haver perseguição.
Aquilo que está aqui em causa é apenas demonstrar se os dois acontecimentos
de que Pinto da Costa é acusado são provados ou não. O resto é política,
mediatismo ou clubite.
Quando a chacina de uma pessoa por causa de campeonatos ou outra coisa tão
mesquinha como esta, é permitida - gostemos da pessoa ou não da pessoa, e eu
não gosto - mais vale passarmos mudarmos de vida. No fim, o trago será
sempre amargo.Assim não vale a pena.
Retirado do Blog renovaroporto.
CALABOTE
P.S.
- Parabéns ao Olegário. Well done !
De Dark a 21 de Maio de 2008 às 16:56
Excelente análise!! Directo e objectivo!
De Anónimo a 21 de Maio de 2008 às 17:23
Boa, companheiro de 'armas'!
De Dark a 21 de Maio de 2008 às 17:53
Não tens de anuir em tudo o que eu digo...ou tens?!
De Anónimo a 23 de Maio de 2008 às 05:01
Então!?!?! Vai levar no cú Dark!
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